15 de abril de 2016




Trabalhar com empenho, acaba sempre por compensar…

Mal acabei de dizer esta frase aos meus pequeninos alunos, engoli em seco. Ainda não fiz outra coisa na vida, que não fosse trabalhar com empenho. Do meu trabalho com empenho saí mais “empenhado” do que recompensado, quase sempre.
Apeteceu-me emendar a mão. Cheguei a fazê-lo, na minha imaginação. “Não, não. O que eu queria dizer é: sejam chico-espertos e a vida ser-vos-á boa. Metam-se na política, ou assim…”
Pertenço à geração que foi ensinada a acreditar no trabalho, no estudo, no sacrifício... Que essa seria a luz ao fundo do túnel. Mas, como ouvi dizer a uma amiga um certo dia (com alguma graça) essa luz, afinal, era a do comboio.

Custa ser educador e ter de ensinar atitudes e valores que só me têm trazido dissabores e angustias. É certo que desistir de o fazer, também não é grande artifício.  Mas que custa, custa. Sinto que lhes estou a mentir. Como me “mentiram” a mim…
Não consigo deixar de sentir que estou a criar mais um carneiro para o rebanho. Para um rebanho onde há cada vez mais lobos para alimentar e onde os carneiros são cada vez mais magros, porque o pastor é, ele também, lobo.

Aqui há uns anos uma colega lamuriava-se, num conselho de turma: “O […aluno] é um cretino! É egoísta, é mau, é arrogante para os colegas e para nós [professores], enfim, insuportável. Que miúdo de tão má índole… Mas que escola é esta? …
“A escola ideal! Está pronto para a vida `lá fora´… [pensei]. A verdade, veredazinha, é que bem lá no fundo eu não acredito que devemos educar “mercenários”. Mas que dá vontade, isso dá. Tão certo como eu ter dito que nunca iria educar a minha filha para que se torne “ingénua”, mas não consigo deixar de lhe transmitir valores e exemplo que acredito serem os mais corretos.

Mas esta revolta que sinto para com a sociedade, tem razão de ser, Acredito sinceramente que sim. O que não entendo é como chegamos a isto. Porque é que “o que é necessário” tomou o lugar “do que está correto”?!? Como é que o TEM que ser, tomou o lugar do DEVERIA ser?!? Mas afinal não são sempre decisões nossas? Certo que há consequências. Mas o que temos cultivado é assim tão melhor do que aquele caminho que devíamos ter seguido e optamos por não seguir?
Como podemos voltar a esse rumo? O que temos de fazer? De quem foi a culpa? Quem foi o causador?


Eu, minha. Tu, tua. Porque o fizemos… ou porque o deixamos fazer.

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