Uma mente desocupada, é o recreio do demónio.
Uma mente ociosa
é o recreio do demónio. É mais uma daquelas frases que lí nas legendas de um
qualquer filme e que, por alguma razão, guardei. Hoje, apetece-me imenso
reescrevê-la. Uma mente desocupada, é o recreio do demónio.
Cobiço
esmiuçá-la, estudá-la, compreendê-la. Quando temos tempo livre e pouco para
fazer, alguns de nós resolvem pensar. Pensar na vida, pensar no passado, pensar
no futuro. A uma velocidade tal que pensamentos e sentimentos se misturam e
complementam, poluindo-se biunivocamente, e tornando tudo muito confuso.
Entramos assim numa espiral de loucura, de insanidade, em que tudo é posto em
causa e não somos capazes de discernir a realidade da fantasia, o inovador do
imbecil, enfim, o certo do errado. Uma mente perdida neste emaranhado não é uma
mente ociosa. É uma mente que, por desocupada, resolve entreter-se com o que de
mais lamacento vive no nosso subconsciente.
São sentimentos
que nos assaltam. Que nos causam dúvida e incerteza. Que nos levam à angústia e
à depressão. Podiam ser sonhos e planos para um futuro risonho. Mas são os
gatos que brincam com as baratas, e não ao contrário. As circunstâncias em que
por vezes nos encontramos levam-nos a colocar tudo em causa. Quem somos? O que
queremos? O que querem de nós? Alguém nos quer? Ou nos não quer? De quem é a culpa?...
E então chega o medo.
Culpa e medo são
dois bichos papões que carcomem o
nosso ser subconsciente e inconsciente. É o medo que nos impede de caminhar
descontraidamente sobre o abismo. É a culpa que nos impede de mandar que outros
o façam. E portanto são importantes. Mas quando lhes damos espaço eles logo
tratam de se “esticar”. Começam por ser convidados de cortesia, mas logo se
instalam abusivamente. Daqueles que permanecem e insistem, mesmo quando já
estamos fartos deles e queremos que se vão embora. Muitas vezes, não vão. E vão
ficando. Vão permanecendo. E abusando da nossa hospitalidade vão se tomando do
espaço do nosso ser. Alguém, por descuido ou por abuso, os deixou à vontade. “Façam
de conta que estão em vossa casa”.
E então passamos
a ter medo de viver. De amar, de sentir, de arriscar. E culpa pelo facto de a
nossa vida existir. Culpa por acharmos que fizemos algo de errado. Culpa por
acharmos que fixemos por ser deixados sozinhos.
O mais ridículo é
que muitas vezes se sente culpa por se achar que perdemos algo, que o outro
deixou de nos dar, porque teve medo de vir a ter culpa. Ou temos medo de vir a
ser os culpados de instilar nos outros o medo, e por isso deixarmos de os ter.
E por tanto só nos resta concluir que o medo e a culpa são os grandes culpados
dos demónios que habitam a nossa mente desocupada. E apetece-me chutá-los para
longe. Mas tenho algum receio que isso possa ser o meu fim e de vir a ser eu
mesmo o principal responsável. Valha-me Deus.
Barcelos,
Outubro de 2014.
2 comentários:
"Valha-me Deus"...Simplesmente fantástico! Não desperdices talentos...escreve um livro e eu serei uma das primeiras leitoras! Bj e da tua ex aluna também! Anabela
Muito obrigado, Anabela, pelas tuas palavras encorajadoras. Escrever é um prazer. Escrever um livro é um sonho. Mas acho que ainda não chego lá.. ;)
Beijos de volta, para toda(o)s
Enviar um comentário