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Bolha de Sabão

Somos bolhas de sabão.

Somos todos bolhas de sabão, que voam aleatórias pelo ensejo do destino. Feitas por Deus, o amigo imaginário dos adultos. Esse amigo imaginário que explica o que não tem explicação e que nos cria a ilusão de conforto quando o destino se nos afigura sombrio.

Bolhas de sabão. Voam aleatoriamente chocado umas com as outras, aproximando-se, repelindo-se… Umas chocam e rebentam… Outras chocam, resistem, afastam-se… e depois rebentam. Outras chocam, fundem-se, e depois rebentam. Somos todos bolhas de sabão. Voamos aleatoriamente. Rebentamos.

E neste voo aleatório criamos a ilusão de que podemos controlar a trajectória. Criamos a ilusão de que podemos cobrir a nossa bolha transparente com cores opacas. Mas as cores são apenas o reflexo do Sol. Nós criamos a ilusão. Deus tem um sentido de humor muito peculiar. Cria as bolhas e depois fá-las rebentar. Diverte-se deixando que as bolhas de sabão voem numa entropia, pululando entre emoções, desejos e projectos…

Mas todas rebentam… Mesmo as que acreditam que não.

Em algumas delas a ilusão torna-se tão crível que quase parece realidade. Há mesmo quem acredite ter uma cor opaca. Há quem ouse afirmar que controla a cor que reflecte. Há quem fique tão obcecado pela sua cor, há quem acredite que é tão opaco que chega a pensar que é pedra, em vez de bolha. Mas as pedras não voam. Nem sequer voam aleatoriamente.

Voemos. Deixemos que o destino nos conduza, sem criarmos ilusões. Não tenhamos a ousadia de pretender controlar a nossa trajectória. Voemos. Escutemos a música que se cria pelas bolhas que colidem. Apreciemos as cores criadas pelo reflexo do sol, mais do que aquelas que as bolhas pretendem fantasiar. Mas saibamos que somos apenas bolhas de sabão que voam aleatoriamente. Todas rebentam… mais tarde ou mais cedo.

Comentários

Anónimo disse…
Temos a ilusão de sermos bolhas de sabão...temos medo de rebentar e deixar de ser uma bolha. Mas nós nunca fomos bolhas de sabão à deriva pelo universo, tão somente somos esse mesmo universo!Somos o espaço que rodeia as bolhas e somos as proóprias bolhas... Não há nada para rebentar, nada para se perder. Para quê ter medo de rebentar?
Anónimo disse…
Voemos como bolhas douradas e quem ousar dizer que são opacas, tem sua alma o desgosto da cegueira.
Voemos porque essas bolhas não rebentam, mas fundem-se suas partículas divinas com as estrelas e tornam-se parte delas.
Por isso, sem receios, voemos livremente!
Anónimo disse…
A vida é aleatória como o voo das bolhas de sabão
Cláudia disse…
Gostei da analogia das bolhas de sabão... é assustador quando nos apercebemos que nada controlamos... e, quando tentamos, somos nós que somos controlados pela nossa ânsia de controlar..., mas quando nos deixamos ir..., quando flutuamos e apreciamos o momento... acontecem-nos coisas fantásticas...

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