Somos bolhas de sabão.
Somos todos bolhas de sabão, que voam aleatórias pelo ensejo do destino. Feitas por Deus, o amigo imaginário dos adultos. Esse amigo imaginário que explica o que não tem explicação e que nos cria a ilusão de conforto quando o destino se nos afigura sombrio.
Bolhas de sabão. Voam aleatoriamente chocado umas com as outras, aproximando-se, repelindo-se… Umas chocam e rebentam… Outras chocam, resistem, afastam-se… e depois rebentam. Outras chocam, fundem-se, e depois rebentam. Somos todos bolhas de sabão. Voamos aleatoriamente. Rebentamos.
E neste voo aleatório criamos a ilusão de que podemos controlar a trajectória. Criamos a ilusão de que podemos cobrir a nossa bolha transparente com cores opacas. Mas as cores são apenas o reflexo do Sol. Nós criamos a ilusão. Deus tem um sentido de humor muito peculiar. Cria as bolhas e depois fá-las rebentar. Diverte-se deixando que as bolhas de sabão voem numa entropia, pululando entre emoções, desejos e projectos…
Mas todas rebentam… Mesmo as que acreditam que não.
Em algumas delas a ilusão torna-se tão crível que quase parece realidade. Há mesmo quem acredite ter uma cor opaca. Há quem ouse afirmar que controla a cor que reflecte. Há quem fique tão obcecado pela sua cor, há quem acredite que é tão opaco que chega a pensar que é pedra, em vez de bolha. Mas as pedras não voam. Nem sequer voam aleatoriamente.
Voemos. Deixemos que o destino nos conduza, sem criarmos ilusões. Não tenhamos a ousadia de pretender controlar a nossa trajectória. Voemos. Escutemos a música que se cria pelas bolhas que colidem. Apreciemos as cores criadas pelo reflexo do sol, mais do que aquelas que as bolhas pretendem fantasiar. Mas saibamos que somos apenas bolhas de sabão que voam aleatoriamente. Todas rebentam… mais tarde ou mais cedo.